quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

O PÁSSARO COLORIDO - Palmira Martins

Imagem Manuel Casimiro

Era uma vez um pássaro. Era de cor cinzenta e tinha um aspecto vulgar. Vivia numa enorme floresta onde havia muitas aves de todas as cores.

O Cinzento, como lhe chamavam os outros, era o mais madrugador de toda a região e também um dos melhores cantores. Além disso era, de entre todos, o que conseguia voar melhor e mais alto.

Todas as manhãs, mal apareciam os primeiros raios de sol, lá se empoleirava ele na árvore mais alta e, com os seus cantares, acordava toda a bicharada. Em seguida subia no céu e voava, voava até quase desaparecer no horizonte.

Os mais preguiçosos, que gostavam de dormir até tarde, ficavam tão zangados por aquele acordar madrugador que o gozavam por causa da sua cor e aspecto vulgar.

– Achas-te muito importante por seres bom cantor? Ainda se tivesses a minha beleza! – dizia-lhe a arara.

– Que aspecto tão vulgar e cor tão estranha! Ainda se tivesses as cores das minhas penas! Já viste alguma ave tão bonita como eu? – comentava o papagaio, empoleirado num arbusto e ainda cheio de sono a meio da manhã.

O pobre pássaro cinzento sabia que eles não tinham razão mas mesmo assim não gostava de os ouvir a troçarem do seu aspecto.

– Não lhes ligues! O que eles gostavam era de cantar e voar como tu e não conseguem! Cada um tem a sua beleza e a tua é o teu bonito canto e a tua rapidez. Não lhes ligues! – dizia-lhe a andorinha sua amiga.

Mas ele queria surpreendê-los e calar as suas vaidades. E até já andava com uma ideia na cabeça. Só estava à espera que a oportunidade surgisse.

E foi então que numa tarde cinzenta, depois de uma chuva forte, os raios de sol apareceram no horizonte e formaram um enorme e belo arco-íris.

O Cinzento encheu o peito de ar e voou, voou em direcção ao arco-íris.

As outras aves, espantadas, viram-no subir, subir no céu até quase desaparecer.

Só uma ave que treinava todas as manhãs desde o nascer ao pôr-do-sol conseguiria voar tão alto! E não é que ele conseguiu mesmo!

Quando finalmente chegou ao arco das sete cores, o pássaro rolou, rodopiou, planou, girou, virou e revirou o corpo.

Imaginem o espanto de todos os animais da floresta quando o viram descer e trazer nas penas todas as cores do arco-íris.

A partir desse dia, o Cinzento passou a chamar-se Colorido e além do mais rápido e melhor cantor é também o pássaro mais bonito da floresta.

Palmira Martins

Fevereiro de 2012